Na vida de qualquer pessoa normal, a ideia de “empreendedorismo” é apresentada consideravelmente tarde, talvez no fim da adolescência ou no começo da vida adulta ao entrar na universidade. Esse e outros termos populares dos negócios que todo mundo conhece como “gestão”, “marketing”, “consumidor” definitivamente não fazem parte do vocabulário infantil porque são coisas de gente grande, elas não precisam saber. Porém, algumas crianças são mais precoces do que outras e, de alguma forma, acabam descobrindo esse lado menos divertido da vida vários anos antes.
É fácil se encantar pelas histórias de crianças empreendedoras, como a do Caine, um menino de 9 anos que montou um centro de diversões feito de papelão e brinquedos simples (esse video me emocionou tanto que legendei o vídeo na íntegra, mas foi bloqueado pelo YouTube por direitos autorais). A cada dia sai mais e mais histórias de crianças que, movidas pela paixão, têm atitudes empreendedoras ao criar e vender produtos, dar palestras, e mudar a vida de outras crianças, criando uma bagunça naquela parcela da população que chamamos de “economicamente ativas”.
Quero que você conheça dois desses adolescentes, ou melhor pré-adultos, capazes de nos inspirar ou nos fazer sentir mal por não termos criado algo tão bacana como eles.
Isabella Taylor é como qualquer garota de 13 anos, gosta de moda e tem um estilo próprio de se vestir. Exceto que Isabella não é uma garota qualquer, ela é membro da Mensa Society, uma espécie de clube para pessoas de QI elevado. Ela está entre os 2% da população mundial com QI acima de 130 —apenas uma em cada 50 pessoas pertencem a esse grupo— mas seus feitos aos 13 anos vão muito além da estatística.
A Isabella começou a pintar aos 3 anos de idade, paixão que a levou a querer aprender a costurar aos 7, então sua mãe a matriculou em um curso. Não demorou muito para ela começar a criar as próprias roupas e fazer suas amigas morrerem de inveja. Como todo empreendedor, ela enxergou uma oportunidade e começou a vender roupas para suas amigas. O negócio deu tão certo que, este ano, Isabella exibiu suas peças na New York Fashion Week com apenas 13 anos de idade. Suas peças que já são vendidas na Nordstrom, um grande varejista norte-americano, custam entre $20 e $100 dólares.
Dá para imaginar o futuro brilhante que essa menina vai ter? Ela acabou de entrar na universidade local e disse, recentemente, em uma entrevista que tem dois objetivos: tornar a sua marca global e ajudar garotas sem condições a conquistarem seus sonhos (quantas boas ideias estão em cabeças de pessoas que não possuem condições técnicas ou financeiras de as colocarem em prática?). E eu só fico me perguntando: TUDO ISSO COM 13 ANOS?! Ela realmente conseguiu abalar o meu ego.
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Essas crianças de hoje devem estar lendo “Quem Mexeu no Meu Queijo” em vez de “O Pequeno Príncipe”, como o jovem Noah Cahoon de 14 anos que, junto com o seu pai, um ex-vendedor da Oracle, começou um pequeno negócio de vendas de aviões feito de papelão. Uma ideia um tanto difícil de decolar — literal e figurativamente falando. Por isso, pai e filho foram ao programa de TV Shark Tank atrás de um investidor para a Paper Box Pilots.
Seu pai foi o porta-voz diante dos investidores, e explicou que quando Noah era pequeno, eles costumavam criar aviões feitos de caixa de papelão. Noah, que é um Escoteiro Águia (o mais alto grau dos escoteiros), percebeu que ele podia além de reproduzir os aviões para seu irmão mais novo, ele poderia vender o projeto para lojas onde outras crianças poderiam “viajar” na brincadeira. O pai então viu a ideia como uma oportunidade de negócio e também como uma possibilidade de ensinar algo ao seu filho antes mesmo dele entrar para o Ensino Médio. As vendas não decolaram, mas era um aprendizado para o pequeno Noah que aprendia sobre funções básicas de uma empresa como design, produção e vendas. E o mais importante, saber tomar decisões.
Dos cinco investidores do programa, três se mostraram interessados. Kevin O’Leary, que vendeu sua empresa para a Mattel por $4 bilhões, ofereceu $35.000 por 50% de sociedade se eles se dispusessem a vender o avião semi-pronto e não apenas os adesivos e como fazer. Barbara Corcoran, ex-dona da maior imobiliária dos Estados Unidos, ofereceu o mesmo por 35% da empresa se eles conseguissem tornar a empresa mais atraente para meninas. E Robert Herjavec, um empresário croata, fez a maior oferta de $50.000 pela metade sem fazer nenhuma exigência. O jovem Noah precisava decidir.
Seu pai não estava brincando quando disse que seu filho era o CEO da empresa. Mas como qualquer adolescente, Noah ficou nervoso e não sabia qual dos três escolher e perguntou “pai, quem eu devo escolher?” e seu pai respondeu “quem você acha que seria o seu melhor mentor?”. Então, Noah escolheu Kevin O’Leary, a pior proposta, mas sem dúvida o melhor coach e com mais experiência no setor de brinquedos.
Quase todos os pais concordam que é muito difícil educar um filho, e alguns pais na tentativa de preparar melhor os seus filhos para a vida adulta os sobrecarregam com mais responsabilidades que eles conseguem lidar. O que essas histórias nos mostram é que a vontade precisa vir de dentro, e os pais funcionam devem agir como facilitador.
É justamente essa vontade de criar (inovar), fazer (produzir) e obter retorno (vender) que tornam as histórias de crianças empreendedoras tão encantadoras. Elas nos ensinam que não existe ideia estúpida que não possa ser comercializada, que medo de errar é coisa de gente grande (e talvez por isso sejamos tão inertes) e que precisamos sim de outras pessoas para nos ensinar e motivar, porque sozinho ninguém vai longe, e nem sequer estaríamos aqui hoje para conhecer essas histórias.