Se você é daqueles que não se sente confortável em comprar pela internet, ainda tem alguns anos para se acostumar, porque as coisas estão ficando realmente sérias no que diz respeito às relações de consumo. Daqui para frente, a diferença entre online e offline deve ficar ainda mais difusa e, se você não acostumar, vai parecer como aquelas pessoas que ainda usam ombreira, pochete, mullet ou permanente no cabelo.
No começo do ano, a revista Entrepreneur listou o O2O como tendência, o que podemos considerar como um dos termos mais quentes do ano no mundo dos negócios. O termo que quer dizer online to offline voltou à mídia recentemente quando o buscador chinês Baidu (um dos poucos a bater o Google) investiu $100 milhões em um serviço de lavanderia tempos depois de firmar uma joint venture com a principal concorrente do Alibaba, a Tencent, e se tornar a primeira empresa deste tipo a abrir o capital A jogada, para tentar se estabelecer como líder no segmento O2O chinês e também fazer frente com o todo poderoso Alibaba (focado no B2B e B2C), sinaliza para o mundo que o O2O é mais do que uma mera tendência descolada.
Enquanto isso no ocidente, o O2O ainda evolui tímido, em grande parte alimentado pela cultura startup. Uma das primeiras experiências foi trazida pelo Groupon, de lá pra cá vieram o Easy Taxi, Uber, AirBnb, iFood e lojas virtuais permitindo que produtos sejam retirados em lojas físicas. Todos são exemplos de online to offline (Falando em sigla, dois dos apps citados se encaixam em outra sigla do momento, o P2P, peer-to-peer, também conhecida como C2C ,em que o fornecedor do produto é outro consumidor, mas este não é o foco deste artigo.)
Há alguns anos, ficou famosa a ação de um supermercado coreano no metrô, onde as pessoas podiam comprar produtos em “gôndolas” adesivadas, utilizando seu smartphone, e receber em casa algum tempo depois. Isso era O2O. Você compra online, recebe no offline e volta para o online na etapa do pós-venda para receber um suporte ou compartilhar experiência.
No entanto, essa explicação é um tanto generalista. Para uma visão mais ampla, entenda O2O (online-to-offline) como um negócio que mescla técnicas e serviços tanto do meio digital como do convencional. Daqui para frente, cada vez menos negócios serão categorizados em digitais ou físicos, eles serão simplesmente negócios. Mas vamos com calma.
A jogada do Baidu é quase tão inteligente quanto às do Google que costumamos admirar, pois é uma estratégia direta de monetização. Enquanto os principais serviços do Google ficam no mundo virtual, o Baidu está tentando trazer para o real, onde rola a maior parte do dinheiro (ecommerce corresponde a apenas 5% das vendas totais do varejo — no Brasil, 3,8%) A ideia da empresa é que quando alguém pesquisar sobre, por exemplo, “lavanderia” ou “calça jeans”, ele ou ela consiga fazer negócio pelo próprio site de busca, recebendo a roupa limpa no final do dia, ou retirando a roupa em uma loja próxima.
Por outro lado, o mercado oriental como um todo é muito atípico para criar modelos de negócios atraentes e replicáveis no lado de cá do mundo. Especialistas atribuem o sucesso do O2O à mão de obra barata, ao poder de fogo centralizado de empresas digitais chinesas como Alibaba, Tencent e Baidu, e até a questões legais que tornam o Uber polêmico e ameaçam a chamada economia do compartilhamento.
É claro que o meu objetivo não é discutir estratégias de megacorporações e sim levantar o assunto muito pouco falado no Brasil, chamando atenção para as oportunidades ocultas no O2O.
Algum tempo atrás, atendi um cliente com algumas lojas de calçados que havia acabado de fechar sua loja virtual, decidindo ficar apenas no varejo físico (o que acredito ter sido uma decisão inteligente). A visão do online-to-offline abre novas opções para este tipo de cliente, pois nos faz ver as duas operações como uma só, e não “loja virtual” e “loja física”. Um exemplo da visão tradicional é a Lojas Americanas cuja gestão das lojas e do site são independentes. Um não agrega em nada para o outro e seus resultados são medidos avaliados como empresas distintas.
Uma outra vantagem do O2O é evitar que lojas físicas percam negócios para as virtuais. Quando a minha mãe precisa fazer uma grande compra, por exemplo uma geladeira ou TV, ela raramente o faz em uma shopping tampouco em alguma loja de rua. Ela até vai à loja, conhece as opções, vê os detalhes, escolhe o modelo, e depois corre para sites como Buscapé. O The New York Times batizou esse fenômeno de “showrooming”, o consumidor olha em um lugar, mas compra em outro.
Outras recursos O2O para o varejo:
- Retirar na loja física
- Outlets de frete grátis
- Centros físicos de devolução de produtos
- Cabines de pagamento
- Centros de compra online em lojas físicas
Desafio você a mudar a visão que tem de negócio virtual e negócio digital. Pense em “On2Off”, mas que também pode ser “Off2On”. A globalização quebrou barreiras geográficas, agora a tecnologia está acabando com noção de virtualidade. Agora, tudo é uma coisa só. Faça besteiras online, e você pagará em uma cadeia offline. Pague um mico offline, e você poderá ficar famoso no online.
Enquanto minha mãe ainda precisa ver na loja para comprar na internet, eu compro na internet sem ver, e alguns ainda preferem não arriscar. As diferentes gerações possuem ritmos diferentes, mas cada uma do seu jeito vai se adaptando a um mercado que não para de mudar. Empresas precisam se adiantar para dar conta dos diferentes perfis de consumidores. No futuro próximo, não haverá mais geração offline e todos terão nascidos conectados. Você está preparado?