Warren Buffett é uma espécie em extinção. É impossível não admirar a sua história, sua capacidade de analisar negócios e grande sabedoria. Quando soube do documentário “Como Ser Warren Buffett” que contava a sua história, fiquei muito empolgado para assistir, tanto que levei o dobro do tempo para termina-lo, registrando e absorvendo cada detalhe da sua vida na busca por ensinamentos. Este post é um pedacinho das principais lições que podemos extrair da vida do Oráculo de Omaha.
Aos 86 anos de idade, Buffett possui a mesma vitalidade e curiosidade sobre a vida de uma pessoa de 25 anos, mas com a experiência e conhecimento de alguém de 80. Isso é raro em uma sociedade cada vez mais hedônica e que trabalha pela recompensa, não pela jornada que leva até ela.
Se você não tem uma boa noção dos feitos de Warren Buffett, bom… ele é o 2º homem mais rico do mundo, dono da 4ª maior empresa dos EUA, uma holding administrada por ele há mais de 50 anos. O escritório da Berkshire Hathaway tem apenas 25 funcionários e quase todos estão lá há anos. Nem departamento de RH a empresa possui. Já as empresas da holding empregam 330 mil funcionários que justam produzem receita de US$ 210 bilhões. A empresa é dona 100% de dezenas de empresas fortes no mercado regional, porém desconhecidas para quem é de fora. Mas a holding possui participação em corporações gigantes como Apple, Coca-Cola, American Airlines e IBM. Além disso, ele é o maior filantro do mundo e criador do Giving Pledge, um movimento que incentiva bilionários a doarem pelo menos metade da sua fortuna até o fim de suas vidas. Ainda assim, Warren Buffett vive na mesma casa há 60 anos na cidade pouco conhecida de Omaha onde nasceu, dirige o mesmo sedã comum há anos, come sanduíches de $2,95 no McDonald’s, não usa computador e seu celular é daqueles que só efetua chamadas.
“Gosto de sentar e ficar pensando. Faço muito isso.”
Para amigos e parentes, Warren Buffet é um gênio. Isso é curioso, porque raramente homens de negócios são chamados de “gênios”, qualidade que parece ser mais adequada a cientistas, jogadores de xadrez, artistas e inventores. Eu sou fascinado por histórias de sucesso, especialmente às daqueles que são diferentes de todos os outros. Sempre tento identificar as características que os levaram ao sucesso, e o sucesso de Buffet não pode ser explicado somente pela sua genialidade com números e intuição para negócios. Há muito mais do que isso, mas nada é inédito. Não há nenhuma lição que não tenhamos visto antes. Foco, curiosidade, paixão, valores, estudo, família, mentores. O sucesso de Buffet pode ser explicado por uma equação com esses elementos.
O que eu notei na história do Warren Buffett é que ela é cheia de clichês. Não há nada de extraordinário a não ser a sua própria personalidade. No entanto, esses clichês parecem estar desaparecendo da nossa sociedade.
1. Educação
É difícil enfatizar o suficiente o quanto a infância é uma etapa importante para o desenvolvimento de um indivíduo. Cada não, cada sim, cada novo estímulo, tudo importa, e Buffett teve tudo exatamente o que precisava para alimentar a sua curiosidade e desenvolver seu intelecto.
Warren Buffett cresceu numa família de classe média e, portanto, tinha acesso a esses estímulos. Mas condições não determina muita coisa. Como explicar a sua paixão por números desde garoto? Ele costumava apostar com colegas qual bolinha de gude era a mais rápida. Brincadeiras (e perguntas) banais como essas podem ser o divisor de águas se alimentadas. Ele gostava tanto de números que até hoje lembra a população de Omaha de 1930 que leu em um livro quando criança, 214.006.
Warren lia mais do que (veja este vídeo sobre a importância da leitura) os seus colegas, e até hoje passa 5-6 horas por dia lendo. Aos 7 anos, ele leu o livro “One Thousand Ways to Make $1000”. Uma das ideias consistia em comprar uma balança de pesar moedas, o jovem Warren então calculou quanto demoraria para pagar e comprar uma segunda balança com o lucro e com base nos juros compostos calculou quanto demoraria para ter uma balança para cada pessoa no planeta. É óbvio que ele não tinha 1000 dólares, então parou de sonhar e começou do pouco, vendendo Coca-Cola, chicliete e jornais porta a porta. Ele lucrava $0,01 por jornal vendido, bastavam 5 para equivaler a sua mesada de $0,05. Warren vendia 500. Anos mais tarde, os primeiros livros sobre investimento que leu foram os do escritório do pai. Ele não apenas leu todos, como leu mais de uma vez alguns deles.
“Qualquer pessoa pode ler o que eu leio. As condições são iguais.”
Os jovens de hoje pensam em empreender aos 20 sem saber o que são juros compostos e com uma carga de leitura mínima, para não dizer inexistente.
Warren sonhava praticamente antes de saber o sentido figurado da palavra sonho. Ainda criança, disse para a irmã que seria milionário antes dos 30. Isso é certamente uma ideia que passa na cabeça dos jovens hoje em dia, mas na cabeça de uma criança da década de 30? Sua irmã diz: “era estranho, mas ele era diferente mesmo, então ninguém dava muita importância”. Ainda na escola, Warren comprou suas primeiras ações na bolsa.
2. Família
Buffett não esconde que o maior presente da sua vida foi o seu pai. Seu pai era um daqueles tipos raros que educavam por exemplo e não por palavras. Dessa forma, seus valores foram absorvidos por todos os filhos. As crianças Buffett também absorveram o conceito de trabalho, fosse brincando na enorme calculadora disponível na empresa do pai ou quando o pai voltava de viagens com fantasias para Warren e suas duas irmãs. Enquanto o pai trabalhava sem dar muita importância para o dinheiro ou opinião dos outros, sua mãe era ambiciosa e competitiva. O resultado dessa combinação moldou a personalidade de Warren Buffett, tornando-se altamente competitivo, porém ético e simples.
Einstein dizia que o exemplo é a única forma de ensinar. Assim, Warren Buffet se tornou um ótimo pai na vida adulta e aqui uma outra lição vinda dos seus filhos: consistência. Buffett chegava sempre no mesmo horário em casa, sempre jantava com os filhos e os colocava para dormir cantando a mesma canção “Over the Rainbow”, de Judy Garland.
3. Um grande amor
Uma das lições que tenho aprendido depois dos 30 é a importância de ter ao lado alguém que melhore você. Aos 30, seu caráter já está consolidado, suas opiniões e visões de mundo firmemente enraizadas. Mudar isso requer uma grande força, e não há força maior que o amor. Buffett se casou aos 21 anos, idade em que ele afirma ser muito imaturo, e mais do que sua esposa Susie aos 19. Conhecer sua esposa foi para ele tão importante quanto seu próprio nascimento. Susie ofereceu o equilíbrio e maturidade que Buffett não possuía.
Buffett diz algo bonito de se ouvir, que ela era melhor do que ele. Bonito porque é raro ouvir isso de alguém, até mesmo da pessoa com quem viveu por décadas. Bonito porque somente quando você se coloca abaixo do outro, é que o crescimento encontra espaço. Sua esposa também não ligava para dinheiro o que, assim como o pai de Warren, talvez tenha ajudado a reforçar uma imagem em que dinheiro não tem grande importância. Dinheiro era um objetivo pessoal e não pressão social (tal pressão que costuma levar pessoas bem-sucedidas à depressão e ansiedade). Para Susie e amigos do Warren, ganhar dinheiro era uma forma de marcar pontos. Marcar pontos alimentava a competitividade exacerbada de Warren, provavelmente herdade da sua mãe.
Foi da esposa que Warren adquiriu uma das posturas que o tornou tão famoso, o de filantropo. Susie começou a se envolver com direitos civis e Warren foi mudando de republicano conservador para um democrata preocupado com as causas sociais, fato este que viria a gerar problemas na relação com o pai. Buffett e Susie assistiram a um discurso do Martin Luther King Jr. seis meses antes da sua morte. Ele considera até hoje uma das coisas mais inspiradoras que viu. Buffett era tão sábio, que um dia conversando com Susie sobre questões raciais, ele disse “espere até as mulheres se darem conta de que são escravas do mundo”. Se os homens sozinhos nos negócios foram capazes de fazer tanto, imagine quando as mulheres se juntassem, divagou Buffett. Temos visto isso hoje em dia, com as mulheres transformando a dinâmica corporativa.
Se hoje Buffett pretende doar 99% de toda a riqueza que adquiriu e chegar ao fim da sua vida gastando apenas 1%, é por causa da sua mulher. O amor a uma mulher impactou milhões e milhões de pessoas. Ainda que os dois tenham se separado (ela mudou de cidade, embora os dois continuaram se vendo e cultivando o amor), é inegável que ela foi o grande amor da sua vida.
4. Pessoas importantes
Ninguém muda sozinho. As lições mais importantes da vida não podem ser ensinadas ou aprendidas de forma solitária. É por isso que até Buffett, um prodígio em todas as formas precisou de pessoas para crescer. Seu pai estimulou, ensinou valores e o conceito de trabalho e dinheiro. Sua mulher ensinou os valores sociais, educando-o sobre aspectos humanos que Buffett carecia. Seu professor, Ben Graham, ensinou dentre muitas lições, os dois famosos princípios de investimento que deu início à sua riqueza: 1) nunca perca dinheiro; 2) nunca esqueça o primeiro princípio. Anos mais tarde, Charlie Munger, tão bem-sucedido nos negócios quanto ele, mudou a forma como Buffett via e fazia negócios.
“Nós não fazemos coisas só porque os outros fazem.”
Buffett aprendeu na Universidade de Columbia a comprar ações com os preços mais baixos possíveis, pois, assim, dificilmente não conseguiria lucrar. Munger disse que o valor não estava nos bens, mas em nomes, marcas, franquias. Essa mudança de paradigma revolucionou a forma com a Berkshire Hathaway funcionava. Agora Buffett não mais ia atrás de empresas medianas por preços maravilhosos, mas atrás de empresas maravilhosas por preços medianos.
Há muito mais lições na história de Warren Buffett e, felizmente, vários livros já buscaram reunir grande parte delas enquanto ele ainda está vivo. Como disse uma ex-jornalista da Fortune que acompanhou a carreira do grande Oráculo de Omaha, sua história será conhecida pelos próximos 100 anos. Warren é um espécime raro, mas sua vida passou por vários dos mesmos problemas que muitos de nós passamos. Ele já ouviu não (foi recusado pela Harvard Business School), seu pai foi demitido, já ficou sem saber que rumo tomar, já tirou notas ruins e já passou por situações muito difíceis. O que torna Warren alguém único é a sua dedicação e paixão em tudo que faz. Mais um clichê, mas que se praticado gera consequências que dariam um filme.